Estamos viciados em conflitos?

Meu filho mais velho adora programas de culinária, especialmente competições do tipo Master Chef e Bake Off Brasil, portanto sempre vemos o que está rolando nesse gênero. Na semana passada assisti um trecho do Master Chef Junior e fiquei com uma sensação diferente.

Não assisti o episódio inteiro, apenas a prova final, mas quando terminou eu estava em um estado de espírito que há tempos não tinha ao assistir televisão, principalmente competições desse tipo. Eu estava feliz e tranquila. E achei muito estranho.

Pensando sobre o assunto, percebi o quanto a dinâmica e o clima do programa me encantaram. Claro que programas com crianças sempre despertam sentimentos positivos nas pessoas, pela forma espontânea, alegre e autêntica que elas costumam se comportar. No caso do Master Chef Junior, fica evidente na forma como elas se ajudam, torcem umas pelas outras, palpitam e comemoram juntas.

Mas o que mais me emocionou foi a postura dos jurados. Isso foi largamente comentado pela mídia como um todo, mas vê-los interagindo com as crianças foi muito bom. Via-se três grandes profissionais assumindo posições de professores, agindo com carinho, paciência, incentivo e, principalmente, como verdadeiros mestres.

Às vezes confundimos ensinar com fazer, ou dar a resposta pronta. Mas grandes mestres são aqueles que observam e fazem pequenos ajustes na rota de seus pupilos apenas quando necessário, deixando que eles se apropriem do conhecimento por si. Como quando a Paola orientou Matheus a manter a calma, simplesmente cortando três porções de massa e ordenando que se concentrasse no pedido da prova, carinhosa mas firmemente. Um de vários exemplos de orientações extremamente válidas, do tipo que seguirão pela vida.

Uma diversão a parte foi ver a veia irônica de Jacquin encontrar parceiros a altura nessa geração (momento desabafo de uma mãe de adolescente :P). Cada um a sua maneira, os jurados agiram de forma a interagir com essa galerinha em um patamar de apoio e cumplicidade.

Bom, para quem não curte esse tipo de programa ou não entendeu aonde quero chegar, vamos lá. Ao terminar o programa, tive uma sensação de leveza, de “tudo bem”. De ver gente se esforçando e outros ao redor ajudando, em vez de olhares de esguelha e sorrisos maldosos. De ver palavras de apoio mesmo nas eliminações. De ver comentários que buscavam o melhor daquilo que foi feito, mesmo quando havia muitas falhas. Comentários de incentivo e críticas ponderadas, na justa medida para realmente ajudar.

Isso me levou a duas reflexões. Uma, a que dá mote ao título deste post: será que estamos tão habituados com conflitos que nos espantamos quando vemos algo tranquilo, construtivo e colaborativo?

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E pior: sendo seres que aprendem por exposição contínua, será que estamos ficando treinados a sempre ver conflito, confusão e crítica em todos os lugares e relações?

Não sei como está aí com você, mas do meu lado aqui tenho visto pessoas continuamente entrando em rixas, estresses e lamúrias por coisas que nem são tão grandes assim, por subentenderem que a pessoa quis dizer X ou Y, quando ela disse A. Parece que nunca uma relação pode ser fina, elegante e sincera.  Sempre tem um pelo em algum lugar desse ovo.

Todo mundo dá seus pitis e tem suas “versões da história”. Eu também estou nessa fila. A questão é: será que a gente não faz isso muitas vezes porque estamos acostumados com o conflito? Será que a gente acha estranho quando está tudo bem?

Recentemente, em uma conversa com meu marido, me dei conta de que não tinha nada para lhe contar. E fiquei super feliz! Explico. Até há bem pouco tempo atrás, eu sempre tinha assunto: um problema com outro departamento, um posicionamento da instituição que ia de encontro com meus valores pessoais, uma situação na equipe que tinha me incomodado. Ou seja, eu estava sempre reclamando e conflitando com as coisas que aconteciam no meu dia-a-dia. Agora, em casa e tocando meus projetos pessoais, me dei conta de que não tinha nada pra falar! Bizarro, né?

Fiquei feliz porque percebi que preencher meu dia agora cabe a mim, mas mais do que tudo cabe a mim não entrar em conflito com o que está a minha volta (porque às vezes dá muita vontade de voltar a reclamar :P).

Tá, eu sei… Você pode achar mais fácil, achar que eu tenho mais escolha que você. É e não é. Também não tá fácil aqui deste lado não. Aliás, já me peguei reclamona em vários momentos. Mas percebo que é, mais do que tudo, uma questão de ângulo, de ponto de vista. Estou assumindo o compromisso de facilitar as coisas pra mim, escolher ver a beleza do caminho. Principalmente, preencher minha fala com coisas potencializadoras e não com o que me desagradou durante o dia.

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Eu estou escolhendo uma vida mais tranquila, com menos conflito e mais beleza!

Estou escolhendo achar ótimo e normal quando tudo está bem, quando há cooperação, paz e alegria o tempo todo! Sem olhar desconfiado, sem “modo de segurança”.

Vamos juntos nesse caminho? ;)

Vou compartilhar a minha segunda reflexão no próximo post! 


O P.S. mais longo de todos os tempos!  (reza a lenda que esse tipo de título dá Ibope…) :D

Existem muitos motivos para esse vício no conflito, mas podemos começar a superá-lo aprendendo a nos relacionar melhor, melhorando nossa comunicação com os outros e tentando entender nossas reais necessidades. Sugiro aqui duas ferramentas para isso, que são tão amplas e poderosas que merecem posts próprios. Por ora, indico materiais para você ter alguma noção delas e começar a pensar no assunto.

Comunicação não Violenta – CNV
    • Entrevista em que um dos divulgadores da técnica aqui no Brasil, Sven Fröhlich-Archangelo, explica seus princípios básicos.
  • Comunicação não ViolentaEssa metologia criada para aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência no mundo é apresentada por Marshall Rosenberg no livro “Comunicação Não Violenta”.
Empatia
  • Vídeo explicando o que é a empatia